Datas Capitalistas
Original de Osvaldo Filippsen
Presentes de valores monetários não me conquistam o coração.
O
termo aceitação está relacionado com um determinado tipo de
comportamento. Existem pessoas, geralmente de baixa autoestima, que
precisam sentir-se aceitas e para tal fazem de tudo. Não percebem que
serem aceitas depende de como elas são em uma condição natural, sem ter
que haver algumas coisas que permeiam a relação, é preciso ser aceito ou
não por valores morais e não por monetários.
Querer
agradar as pessoas com presentes pode não ter relação com carinho e
afeto, mas sim com uma tentativa de ser aceito pelo outro, nesse caso
alguém está comprando o outro e não conquistando. Muitas amizades se dão
por relação de interesses, alguém pode ter certos benefícios ou
vantagens em ser amigo de certas pessoas. Essas, em suas posições, podem
beneficiar aos amigos em detrimento de outros.
Não
há problemas em querer ser amigo de pessoas influentes, o problema está
no fato de que se essa pessoa não fosse quem ela é talvez não houvesse
essa amizade, deixando claro o interesse no que essa amizade pode fazer,
não necessariamente na pessoa em si e seus valores morais. Dar um
presente pode ser um ato de gratidão, bem como pode esconder interesses e
necessidades de aceitação.
O
Comércio, por perceber que há uma necessidade de presentear a alguém,
vive das mais diferentes datas ao longo do ano aqui no Brasil.
O
carnaval inicia todo o processo, é para ser uma festa popular,
tornou-se um negócio milionário. Passado isso, vem a Páscoa, data
religiosa onde as pessoas consomem inúmeros produtos de chocolate e
peixe, parecendo não haver mais nada no mundo ou nem pensar em ficar de
fora, seria “pecado” não comer peixe na Páscoa.
Naturalmente
as pessoas compram presentes para várias outras, é um processo
automático, se é Páscoa, tem que haver presentes. Ninguém parece lembrar
que é uma data religiosa e que, cada um na sua crença, deveria
aproveitar para reflexão e não consumismo.
Depois
vem o dia das mães, e todo mundo quer dar um presente para a sua mãe, o
comércio lucra, a economia gira e as mães, talvez, quisessem apenas um
abraço de seus filhos que foram a “luta” e já deixaram suas casas.
Presentes não tem valor algum para uma mãe que quer ouvir apenas que
ainda é amada ou talvez um abraço e um muito obrigado, mãe.
Depois
vem o dia dos pais, mais consumismo e presentes para mostrar o quanto
gostamos de nossos pais. Mais uma vez um presente pode não valer de nada
para um pai que só é lembrado nesse dia, em que seus filhos já o
esqueceram no dia a dia, um sorriso e um abraço seguido de um eu te amo,
pai; seria um grande presente para aquele que nos deu vida e criou
junto com nossa mãe.
Depois
vem o dia dos namorados e naturalmente, como prova de amor, um presente
precisa ser dado. Juras de amor eterno vão estar escritas nos cartões
de presentes, que serão rasgados em lágrimas meses depois. A fidelidade e
o respeito poderia ser o melhor presente ao par de “pombinhos” que
juram envelhecer juntos.
E,
chegamos ao dia das crianças, precisamos presentear nossos herdeiros,
temos que mostrar a eles o quanto os amamos, e vamos correr às lojas,
comprar brinquedos, contrair dívidas e agradar nossas “crias”. O tempo
passa, os brinquedos quebram, as crianças crescem e o mundo as recebe
como adultos fracos, sem valor, educação e cheios de ilusões, um bom
presente para quem ama seus filhos é dar educação e respeito, solidifica
valores morais e torna-os homens sadios.
Nem
dos que já partiram para uma “vida melhor” nos esquecemos, finados é o
seu dia. Nesse dia vamos lembrar-nos daqueles que fizeram parte de
nossas vidas em algum momento. Gesto nobre lembrar-se dessas pessoas,
colocar flores em sua sepultura, quando é em vida que deveríamos
valorizar essas pessoas importantes para nós. Uma oração pedindo luz
para a alma de nosso ente tem mais valor do que um buquê de flores.
E
chegamos ao Natal, é hora de presentear todo mundo, inclusive aqueles
que nem nos procuram. Corremos às lojas, compramos tudo e pagamos
suavemente ao longo do ano. Mais uma vez esquecemos que o Natal é uma
data religiosa, novamente tempo de reflexão, de encontrar pessoas, olhar
nos olhos e dizer-lhes que são nossos maiores presentes.
Não
estamos evoluídos para sermos aceitos em um processo natural,
precisamos mostrar que somos ou queremos ser importantes dando presentes
para os outros.
Às
vezes, apenas ouvir alguém pode ser um grande presente, quem sabe essa
pessoa possa estar querendo dizer a você ou apenas ouvir de você o
perdão, pelos os erros passados.
Mas, se você precisa ser aceito, datas capitalistas não faltam para você comprar um presente.
A propósito, qual o valor de um abraço?