segunda-feira, 25 de março de 2013

Datas Capitalistas



Datas Capitalistas
Original de Osvaldo Filippsen

Presentes de valores monetários não me conquistam o coração.

O termo aceitação está relacionado com um determinado tipo de comportamento. Existem pessoas, geralmente de baixa autoestima, que precisam sentir-se aceitas e para tal fazem de tudo. Não percebem que serem aceitas depende de como elas são em uma condição natural, sem ter que haver algumas coisas que permeiam a relação, é preciso ser aceito ou não por valores morais e não por monetários.

Querer agradar as pessoas com presentes pode não ter relação com carinho e afeto, mas sim com uma tentativa de ser aceito pelo outro, nesse caso alguém está comprando o outro e não conquistando. Muitas amizades se dão por relação de interesses, alguém pode ter certos benefícios ou vantagens em ser amigo de certas pessoas. Essas, em suas posições, podem beneficiar aos amigos em detrimento de outros.

Não há problemas em querer ser amigo de pessoas influentes, o problema está no fato de que se essa pessoa não fosse quem ela é talvez não houvesse essa amizade, deixando claro o interesse no que essa amizade pode fazer, não necessariamente na pessoa em si e seus valores morais. Dar um presente pode ser um ato de gratidão, bem como pode esconder interesses e necessidades de aceitação.

O Comércio, por perceber que há uma necessidade de presentear a alguém, vive das mais diferentes datas ao longo do ano aqui no Brasil.

O carnaval inicia todo o processo, é para ser uma festa popular, tornou-se um negócio milionário. Passado isso, vem a Páscoa, data religiosa onde as pessoas consomem inúmeros produtos de chocolate e peixe, parecendo não haver mais nada no mundo ou nem pensar em ficar de fora, seria “pecado” não comer peixe na Páscoa.

Naturalmente as pessoas compram presentes para várias outras, é um processo automático, se é Páscoa, tem que haver presentes. Ninguém parece lembrar que é uma data religiosa e que, cada um na sua crença, deveria aproveitar para reflexão e não consumismo.

Depois vem o dia das mães, e todo mundo quer dar um presente para a sua mãe, o comércio lucra, a economia gira e as mães, talvez, quisessem apenas um abraço de seus filhos que foram a “luta” e já deixaram suas casas. Presentes não tem valor algum para uma mãe que quer ouvir apenas que ainda é amada ou talvez um abraço e um muito obrigado, mãe.

Depois vem o dia dos pais, mais consumismo e presentes para mostrar o quanto gostamos de nossos pais. Mais uma vez um presente pode não valer de nada para um pai que só é lembrado nesse dia, em que seus filhos já o esqueceram no dia a dia, um sorriso e um abraço seguido de um eu te amo, pai; seria um grande presente para aquele que nos deu vida e criou junto com nossa mãe.

Depois vem o dia dos namorados e naturalmente, como prova de amor, um presente precisa ser dado. Juras de amor eterno vão estar escritas nos cartões de presentes, que serão rasgados em lágrimas meses depois. A fidelidade e o respeito poderia ser o melhor presente ao par de “pombinhos” que juram envelhecer juntos.

E, chegamos ao dia das crianças, precisamos presentear nossos herdeiros, temos que mostrar a eles o quanto os amamos, e vamos correr às lojas, comprar brinquedos, contrair dívidas e agradar nossas “crias”. O tempo passa, os brinquedos quebram, as crianças crescem e o mundo as recebe como adultos fracos, sem valor, educação e cheios de ilusões, um bom presente para quem ama seus filhos é dar educação e respeito, solidifica valores morais e torna-os homens sadios.

Nem dos que já partiram para uma “vida melhor” nos esquecemos, finados é o seu dia. Nesse dia vamos lembrar-nos daqueles que fizeram parte de nossas vidas em algum momento. Gesto nobre lembrar-se dessas pessoas, colocar flores em sua sepultura, quando é em vida que deveríamos valorizar essas pessoas importantes para nós. Uma oração pedindo luz para a alma de nosso ente tem mais valor do que um buquê de flores.  

E chegamos ao Natal, é hora de presentear todo mundo, inclusive aqueles que nem nos procuram. Corremos às lojas, compramos tudo e pagamos suavemente ao longo do ano. Mais uma vez esquecemos que o Natal é uma data religiosa, novamente tempo de reflexão, de encontrar pessoas, olhar nos olhos e dizer-lhes que são nossos maiores presentes.

Não estamos evoluídos para sermos aceitos em um processo natural, precisamos mostrar que somos ou queremos ser importantes dando presentes para os outros.

Às vezes, apenas ouvir alguém pode ser um grande presente, quem sabe essa pessoa possa estar querendo dizer a você ou apenas ouvir de você o perdão, pelos os erros passados.

Mas, se você precisa ser aceito, datas capitalistas não faltam para você comprar um presente.

A propósito, qual o valor de um abraço?

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